o rio é tejo é azul. o teu nome escrito é azul. o teu lábio no meu é azul. E o que sangrou caiu ao chão. e o nosso amor morreu no chão, mas o lugar fica azul
Nas muralhas da cidade
Há 17 horas
o rio é tejo é azul. o teu nome escrito é azul. o teu lábio no meu é azul. E o que sangrou caiu ao chão. e o nosso amor morreu no chão, mas o lugar fica azul
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio, in Cântigo Negro
o rapaz dotado de três mortes
tem um sonho exactamente igual ao
meu. espera encontrar quem genuinamente o
queira, sem condições, como se esperasse
pela água e fosse semente e pudesse germinar
com o aspecto que lhe aprouvesse e ser, enfim,
de uma qualquer espécie sem reservas nem
preocupações.
o rapaz dotado de três mortes
só pensa em morrer. acorda para morrer.
pensa que a morte é a grande oportunidade. tudo
o mais é atrito no caminho. pensa que,
se houver deus, a morte é
verdadeiramente a oportunidade que conta. e
esforça-se por merecê-la.
hoje, sem que eu contasse, olhou para mim, não
disse nada, percebeu como éramos iguais e
não me estranhou. convenci-me de que já vira
outros como nós, à espera, fartos da vida
com ar de quem ainda quer mais. cheguei a casa,
pouco depois, soterrei a alma, permaneci
imóvel diante dos livros. pensei, há-de
haver um poema que me tire daqui, um
só poema que me traga a morte com toda a
benignidade do mundo
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