domingo, 30 de dezembro de 2012

Memória eidética, número dezassete

A bola de ano novo de Time Square, Nova York, 1978

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Guerra Civil, de Pedro Caldas

Dizer que não há bom cinema em portugal é não conhecer o que por cá se faz. 

Admito, à priori, não ser grande conhecedor do nosso cinema. Conheço algumas coisas que me despertaram a atenção, algumas das quais já aqui foram partilhadas, a maioria no campo das curtas metragens e dos documentários, e agrada-me também a descoberta. 

Há alguns dias estava a dar este filme na RTP2 (que passa muitos filmes portugueses), vi-o do inicio ao fim, e tem tudo para ser óptimo: um rapaz solitário que vive apenas no seu mundo, uma rapariga que lhe mostra alegria, música dos joy divison, uma geração adulta frustrada na idade e uma palete de cores a roçar o antigo. Tudo semelhante ao que se vê lá fora e que normalmente atrai, nem que seja os seguidores do cinema indie. Não digo que se devam seguir receitas, nem tão pouco que Pedro Caldas as seguiu. A história é boa e sólida, e a forma escolhida para desenrolar a acção e mostrar as personagens, sublime. O que quero dizer é que se este filme viesse de fora toda a gente falava ou já tinha, pelo menos, ouvido falar dele.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

o fim, de B Fachada



é assim, o fim.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

tenho tido sonhos de voar | farto de voar, d'os sobreviventes de b fachada

Farto de voar, pouso as palavras no chão. Entro no mar, sinto o sal de mão em mão. Tenho um barco na vida espetado, só suspenso por fios de um lado e do outro a cair, no arpão.
Levo a dormir, sonhos que andei para trás. Ergo o porvir, trago nos bolsos a paz. Tenho um corpo na morte espetado, só suspenso por balas de um lado, e do outro a escapar de raspão.

Sérgio Godinho, in Farto de Voar

B Fachada, Minta e João Correia  - Farto de Voar

domingo, 23 de dezembro de 2012

Memória eidética, número dezasseis

Crianças a incendiar árvores de natal, Roterdão, 1964, por Winfried Walta

sábado, 22 de dezembro de 2012

o apocalipse das ideias

Existem forças capazes de mover homens. Capazes de penetrar na sua pele, seguir pelos vasos sanguíneos e ficar alojadas nos tecidos moles. Existem forças que se replicam na existência do homem, como um vírus. Existem ainda forças que corroem e destroem toda a sua metafísica. As ideias são todas essas forças. As ideias instalam-se e corroem, são metásteses mentais. A religião é uma dessas ideias, a crise, de uma certa forma, também. E todos os supostos apocalipses.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cadernos da Tese: o tempo que passou

O tempo passa que nem uma rajada de vento, é o primeiro inimigo de quem está a fazer uma tese. Metade do semestre que tenho para fazer esta dissertação é passado. Os conjuntos de palavras, ideias e concepções começam a ganhar uma forma mais real, tanto no papel como na cabeça. É assim que funciona esta máquina, sempre foi, primeiro conceber concretamente tudo na cabeça e só depois passar para acção à frente ao teclado, já com algum vento nervoso no estômago, e no ponteiro do relógio. Os próximos três meses esperam-se atribulados. É como se diz, na natureza não existem linhas rectas.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

sobre o dinheiro

Mas a família Leo Vast resistiu confortavelmente às mudanças. Era como se as mudanças políticas afectassem a base da sociedade, mas nunca chegassem aos andares mais altos. O dinheiro é democrático, se necessário, e ditatorial, se necessário. É a matéria flexível por excelência. Obedece às leis que ele próprio impõe: eis o dinheiro.

Gonçalo M. Tavares, in Um Homem: Klaus Klump

Será necessário acrescentar mais alguma coisa?

domingo, 16 de dezembro de 2012

Memória eidética, número quinze



Andy Warhol and Candy Darling, Nova York, 1969, por Cecil Beaton

sábado, 15 de dezembro de 2012

nunca parto inteiramente

















Nunca parto inteiramente. Vivo de duas vontades: uma que vai na corrente, a outra presa à nascente, fica para ter saudades.

Manel Cruz, in Nunca parto inteiramente

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mario Vargas Llosa, sobre Lisboa, Saramago, Lobo Antunes e Pessoa

Gosto muito de Lisboa, sobretudo como a parte velha se conservou e está viva dentro da cidade moderna. Há qualquer coisa de tradicional que dá um ritmo especial à vida em Lisboa, de que gosto muito. Fiquei sempre com uma magnifica impressão, é uma cidade com muita personalidade, onde a vida parece que vai mais lenta do que noutras partes. As livrarias são muito bonitas. As velhas tascas, tão simpáticas, de ambiente tão acolhedor. É uma cidade muito literária, não? (...)

Apesar de termos muitas diferenças politicas, éramos muito amigos. E sou muito amigo de Pilar, sua viúva. Creio que Saramago contribuiu muito para impregnar Lisboa de imagens literárias. É impossível chegar a Lisboa sem sentir a presença da literatura, que está impregnada nas ruas. Gostaria muito de escrever aí, nos cafés, nas ruas. (...) Gosto da coisa enlouquecida que têm os seus romances (António Lobo Antunes), que começam na realidade e disparam sempre para um mundo visionário, quase fantástico. Um escritor muito interessante, em contraponto com Saramago, que era mais apegado ao mundo objectivo. Complementam-se. (...)

Li muito em português. Gosto muito da língua, acho-a bela, musical, poética, literária. Li toda a obra do Pessoa em português, mesmo havendo boas traduções. Sou um grande admirador do Pessoa.

Mario Vargas Llosa, em entrevista para a Sábado

Nunca li nada de Vargas Llosa, penso só ter ouvido falar dele aquando do prémio nobel que ganhou em 2010. Mas vê-lo falar assim faz-me orgulhoso.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Provérbios flamengos e o espelho da sociedade

Falei deste quadro há bem pouco tempo e é engraçado ir vendo os seus pormenores e descobrir que é um óptimo espelho da sociedade. Quando se olha para o todo, vê-se uma paisagem rural, característica da época e até bastante pacifica. No entanto, olhando a cada detalhe passam-se coisas verdadeiramente estranhas. O que mais me agradou foi mesmo essa primeira impressão apaziguadora que o quadro transmite e depois verificar que não é nada assim, que é tudo uma grande confusão caótica. A mesma sensação que tenho quando passo na ponte por cima de alcântara: lá em baixo a vida é tão pequena e sem detalhe.


Provérbios Flamengos, de Pieter Bruegel the Elder


domingo, 9 de dezembro de 2012

Memória edética, número catorze


 Writing on water, Foster's Pond, 2000, por Arno Rafael Minkkinen 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Estes senhores ontem mandaram abaixo uma pequena sala do S.Jorge

E, mesmo fazendo parte do mexefest, foi um concerto bem intimista.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

descobertas interessantes

Na secção de livros encontrei esta capa...


... que logo me recordou a do primeiro disco de fleet foxes.

Ambas provenientes de um quadro de Peter Bruegel com o nome de Os Provérbios Flamengos. É este tipo de interacção que gosto na arte: uma pintura mais velha que qualquer individuo à face da terra fazer agora parte de duas obras de arte, neste caso da literatura e da música contemporâneas.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

um poema que me faça lembrar as raízes

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele

Alberto Caeiro, in O Tejo é mais belo

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

basket case, por Luísa Sobral

Não sou seguidor nem conhecedor da música da Luísa Sobral, pelo menos até agora. No outro dia, numa viagem de carro, ouvi-a cantar uma música que me era conhecida e que já não ouvia há alguns anos. Não a reconheci de imediato mas sabia a letra. No entanto reconheci a voz de quem a cantava: a Luísa tem uma voz que se distingue e que é bem bonita para músicas que enviam aquele tom melancólico. É o caso da versão que fez de basket case, dos green day. Para mim foi impossível não gostar.


domingo, 2 de dezembro de 2012

Memória eidética, número treze


Woody Allen e Diane Keaton, 1972

sábado, 1 de dezembro de 2012

cavaco silva, sobre o seu silêncio

Todos sabem que o silêncio do Presidente é de ouro, hoje a cotação do ouro foi de 1730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1.7% do que a cotação do ouro naquele dia (...) em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: "t, s, u"

Cavaco Silva, ironizando sobre o seu silêncio (expresso)

Onde fazemos a troca? é muito silêncio.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

feels like we only go backwards, tame impala

It feels like i only go backwards baby
every part of me says go ahead




 do maravilhoso Lonerism.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

porque é que não é tudo como calha


fica sempre tanta gente para trás ou é para a frente nem me lembro agora tanto faz. os ofícios, as rotinas que escaparam rapaz, as mentiras, as meninas que deixaste em paz. as leituras, as viagens, as carreiras que deixaste em paz. já perdeste um companheiro e estás inteiro sem os sonhos que deixaste em paz, a velha ganância, a namorada de infância, a casa no bairro, o carro

e tudo o que não volta atrás do karma que deixaste em paz.


B Fachada - como calha


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Sem Título #37

I am no longer sure of anything. If I satiate my desires, I sin but I deliver myself from them; if I refuse to satisfy them, they infect the whole soul.


Jean-Paul Sartre

domingo, 25 de novembro de 2012

Memória eidética, número doze


Bordel em Alicante, Espanha, 1932, por Henri Cartier-Brensson



The brothel was opposite the hotel where I was staying. It was the woman pimp- the madam. The gay man. And the maid.

Henri Cartier-Brensson, sobre a fotografia.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cadernos da Tese: a prisão e o norberto lobo

Passar grande parte da semana em frente do excel perturbou-me, é ver o mundo aos quadradinhos, como uma prisão, de facto é. como passar demasiado tempo num quarto e perceber-lhe os defeitos. Esta semana a carta de saída da prisão foi-me cedida pelo norberto lobo. mel azul é mais um óptimo trabalho e este senhor merece ficar na história dos guitarristas portugueses. como hoje se fala do carlos paredes, daqui a uns valentes anos espero que se fale do norberto lobo.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

isto não é um livro, é uma pequena bomba

quando as estátuas não falam

Klaus deixou o seu oficio, mas apenas hoje. Trabalha numa tipografia, mais: é editor, quer fazer livros que perturbem tanques.
Isso não é um livro, é uma pequena bomba.
Queres perturbar tanques com prosa?

Gonçalo M. Tavares, in Um Homem: Klaus Klump


imagem: do meu flickr 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

no peito dos desafinados também bate o coração, João Gilberto


O que você não sabe e nem sequer pressente, é que os desafinados também têm coração.

Desafinado, de João Gilberto


haverá maior perfeição?

domingo, 18 de novembro de 2012

Memória eidética, número onze

Tom Jobim e Frank Sinatra, 1967

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

sobre o saramago

Começo por confessar que não li o memorial do convento. na altura era um jovem com 17 anos e não era tão dado à literatura como sou hoje. já tinha lido, no entanto, o romance que me abriu os olhos para as letras, os maias. mas o memorial não me cativou na altura, disse-me que não era a altura para eu o ler. (e para além do que fazer este tipo de coisas por obrigação dá-me náuseas.)
De qualquer maneira, vivia num mundo, vá num micro-mundo, em que eram poucos aqueles que simpatizavam com saramago, sendo simpatizar a mais leve manifestação de um simples gostar. acho que ainda vivo. Lembro-me de que cada vez que o escritor dava a sua opinião sobre a religião, politica, e o que quer que fosse, haver um desdenhar incrível a circular nas veias daqueles que me rodeavam. lembro-me até de ter recebido o caim no natal de há uns anos atrás, devoreio-o em três dias, e ao rasgar o embrulho, ouvir o meu tio ou o meu primo a elevarem a voz dizendo: esse comunista. Sempre fui daquelas pessoas do contra, e como tal assim nasceu o meu gosto por este escritor. Lembrei-me de escrever isto há uns dias, ao verificar que tal também acontece na faculdade. há um constante invocar da falta de vírgulas do "nobel português", cito os engenheiros, cada vez que se congratula a boa escrita técnica de uma tese.

hoje sorrio não dando importância e dou graças por ser do contra. 


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

eusébio no deserto, filho da mãe


penso já ter falado anteriormente do filho da mãe. já o vi várias vezes ao vivo, mesmo antes de conhecer o disco, já o vi sozinho em palco, já o vi acompanhado, já paguei e já o vi gratuitamente. e de todas as vezes posso dizer que foi das coisas mais arrebatadoras que vi e ouvi. e é música de só uma viola, mas quando o tocador parece ter mil dedos nem é preciso voz para cantar o sentimento.


e este é um dos títulos mais estranhos que já por aqui passaram. 
a fotografia foi roubada daqui, um blog fotográfico que vale a pena visitar.

domingo, 11 de novembro de 2012

Memória eidética, número dez


Fyodor Dostoyevsky, 1879


sábado, 10 de novembro de 2012

um poema que me faça não parar sem produzir

Metidos nesta pele que nos refuta,
Dois somos, o mesmo que inimigos.
Grande coisa, afinal, é o suor
(Assim já o diziam os antigos):
Sem ele, a vida não seria luta,
Nem o amor amor.

Saramago, in Arte de Amar

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

cuba 1970, dead combo





em seguimento do post anterior, os dead combo estão mais que aprovados.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cadernos da Tese: o ritmo

A parte mais dura de começar a fazer uma tese é, sem qualquer dúvida, entrar no ritmo. Ainda não cheguei ao ponto perfeito, em que todo o tempo em que não estou a fazer uma outra coisa importante é canalizado em trabalho, em que quase adormeço com ela na cabeça e acordo pronto a trabalhar. O ponto forte é a quantidade de tempo que tenho para ouvir e conhecer música nova, na esperança de encontrar aquela banda sonora perfeita para este trabalho solitário que me vai acompanhar até março. Até agora ganham as músicas mais instrumentais.


domingo, 4 de novembro de 2012

Memória eidética, número nove

Halloween in South Side, Chicago, 1951, por Yasuhiro Ishimoto

sábado, 3 de novembro de 2012

a corda

a corda ainda prende o pé mas eu já fugi daqui tantas vezes
que não sei se vou voltar


a corda do elefante sem corda, linda martini 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

a islândia e o meu gosto pelo frio

a islândia é dita com um dos melhores países para viajar sozinho e eu estou mesmo a precisar de uma daquelas jornadas espirituais, daquelas para fazer a ponte entre o acabar e o começar de um novo ciclo, se é que isso existe.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

o amor separar-nos-á


o rio é tejo é azul. o teu nome escrito é azul. o teu lábio no meu é azul. E o que sangrou caiu ao chão. e o nosso amor morreu no chão, mas o lugar fica azul

domingo, 28 de outubro de 2012

Memória eidética, número nove

Dali Atomicus, 1948, por Philippe Halsman

sábado, 27 de outubro de 2012

bon iver no campo pequeno

26/10/2012

foi uma bonita mistura de cores, sons e emoções. sobretudo sons.

e já agora, bon iver vem de bon hiver, que é como quem diz bom inverno em francês.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Não me importava de morrer se houvesse guitarras no céu, de Tiago Pereira

Não bastava o título por si representar uma verdade absoluta, que se pode alargar a outros instrumentos, este é um documentário que mostra bem a importância da cultura popular e o orgulho que se deve ter por ela. E como o próprio realizador Tiago Pereira diz, a chamarrita é o rock n'roll da música popular, pelo ritmo, pela alegria e pelo que representa para as pessoas que a dançam. Depois deste filme, não me restaram quaisquer dúvidas.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

o que têm em comum os fleet foxes e o grupo de folclore terra de arões

No sábado fui a um evento organizado pela música portuguesa a gostar dela própria no largo camões, onde este grupo de folclore mostrou a sua tradição (e mostrou-a bem!). Assim que os ouvi, ouvi também uma outra música, a sun giant dos fleet foxes. As semelhanças estão aí, bem audíveis. É, o folk(lore) tem destas coisas.






domingo, 21 de outubro de 2012

Memória eidética, número oito


Bob Dylan e John Lennon, Nova York, 1964

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

as influências e o Chico Buarque de Hollanda

Nunca fui muito dado à música brasileira. Quando era pequeno ouvia-se aquelas coisas mais pop e eu era um fiel amante do roque. Hoje o que ouço é um pouco mais diversificado, talvez até por causa da maneira como a música evoluiu, e reparo que têm influencias para os lados do folque, da musica mais erudita e até do bossa-nova, mas ainda dentro de um certo padrão do que ainda se pode apelidar de roque, ou pop roque, vá de indie qualquer-coisa, nunca fui muito bom com este tipo de rótulos. Tudo isto para dizer que comecei a investigar essas influências e acabei por descobrir o Chico Buarque de Hollanda, vol. 3, um bom disco em português com sotaque. 


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

o outono já está velho para vir

O outono já está velho para vir. já não vem, ou demora. já não vem a mudança, as folhas a cair, a nudez e o ligeiro arrepio à frente do espelho. Lembro-me de ser pequeno e as folhas caírem, ficavam ainda no chão algum tempo, ficavam estaladiças primeiro e só depois molhadas, assim já não faziam sons. estavam como que afogadas: estendidas e moles. mas ainda demorava até ficarem assim, primeiro ficavam estaladiças e eram boas de pisar. Agora já não há mudança, nem a nudez e nem o arrepio ao espelho, tomamos banho vestidos e mal nos olhamos. Já não há outono, ou demora, mas já não é a mesma mudança. eu preciso da mudança, as minhas cordas precisam da mudança. estão gastas e moles, estão velhas para vir.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Being John Malkovich, de Spike Jonze


Charlie Kaufman escreveu, Spike Jonze realizou, e o resultado foi um filme tão bom como não existem muitos. Joga com as mais profundas obsessões pessoais de cada um, levando-as a um extremo e acrescentando alguma surrealidade, que fazem todo o filme ser o que é. Todo o conceito de identidade que acompanha o filme está muito bem explorado, a cada personagem, a cada detalhe da história. Só tenho pena de não o ter visto mais cedo, mais um!


domingo, 14 de outubro de 2012

memória eidética, número sete

Christopher McCandless (Alexander Supertramp), 1992

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

o triste caso do vale do tua

Quando nada mais tenho a fazer com a internet, tenho sempre duas ocupações: passear pelo google earth e procurar fotografias antigas de alguns locais.

Agora pergunto-me qual será a reacção das pessoas do futuro que partilhem desta minha ocupação se a barragem de Foz Tua de facto avançar. Como será descobrir uma linha ferroviária magnifica que acompanha um rio num estado natural único, num vale dos mais ilustres que temos em portugal? Basta ir ao google earth para ver a sua magnitude, mas ao vivo é outra história. Já naveguei no rio. Já percorri a linha, agora abandonada. E é por isso que choro pelo vale do tua, que luto por ele, e é por isso que tenho a certeza de que este é um caso de crime, porque não há nenhum valor que se possa sobrepor ao valor de um local com património natural, histórico e cultural, muito menos uma barragem que nada serve para o "progresso" energético português.

Este assunto ainda vai dar muito que falar, se quiserem saber mais há aqui muita coisa.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

speak in rounds


Come get what's lost, what's left before it's gone 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Clockwork Orange, de Stanley Kubrick


Nem sei que palavras escolher para dizer o que achei deste filme. É um brincar com o livre arbítrio, até com o nosso de espectadores. É um enredo arrebatador que gira à volta de apenas uma coisa: é preferível obrigar uma pessoa à mudança, ou deixa-la ser, mesmo que isso signifique algo que não gostamos? Isto, passado num cenário futuro, num futuro bem mais aprazível do que o que hoje se conta nos filmes.

E algo mais, o título Clockwork Orange (do romance original de Anthony Burgess), vem da mistura do que é mecânico com aquilo que é vivo e doce - um engenhoso oximoro que faz todo o sentido depois de ver o filme.


domingo, 7 de outubro de 2012

Memória eidética, número seis

Auto-retrato de William Utermohlen, um pintor com alzheimer, 1997



Ao descobrir que tinha a doença, começou a pintar-se para a tentar perceber. Vejam a negra sucessão de auto-retratos aqui.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

um poema que me faça lembrar a minha vontade contra corrente

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio, in Cântigo Negro

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

The Life Aquatic, de Seu Jorge



Conheci este disco através do filme para o qual foi feito e no qual o Seu Jorge também entra, o Life Aquatic with Steve Zissou de Wes Anderson. A ideia de fazer com que uma personagem trate da banda sonora com o seu violão e voz forte é muito boa, sobretudo quando a música é cantada em português, o que me levou a querer ouvi-la com mais detalhe. Surpreendente foi também o facto de grande parte das músicas serem adaptações de músicas do David Bowie. Algumas delas não ficam nada atrás das originais, mas isso já é coisa de gosto.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

um poema que me traga a morte com toda a benignidade do mundo

o rapaz dotado de três mortes
tem um sonho exactamente igual ao
meu. espera encontrar quem genuinamente o
queira, sem condições, como se esperasse
pela água e fosse semente e pudesse germinar
com o aspecto que lhe aprouvesse e ser, enfim,
de uma qualquer espécie sem reservas nem
preocupações.
o rapaz dotado de três mortes
só pensa em morrer. acorda para morrer.
pensa que a morte é a grande oportunidade. tudo
o mais é atrito no caminho. pensa que,
se houver deus, a morte é
verdadeiramente a oportunidade que conta. e
esforça-se por merecê-la.
hoje, sem que eu contasse, olhou para mim, não
disse nada, percebeu como éramos iguais e
não me estranhou. convenci-me de que já vira
outros como nós, à espera, fartos da vida
com ar de quem ainda quer mais. cheguei a casa,
pouco depois, soterrei a alma, permaneci
imóvel diante dos livros. pensei, há-de
haver um poema que me tire daqui, um
só poema que me traga a morte com toda a
benignidade do mundo

valter hugo mãe in pornografia erudita

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cadernos da Tese: a mobilidade e a música

O mais inglório de estar a fazer uma tese sobre mobilidade, que defende o uso transporte colectivo face ao individual (e poluente), e de eu próprio defender esta ideia extracurricularmente, é a CP. Estas greves, que são claramente excessivas e que ocorrem mesmo quando não existem, lixam e põe tudo em causa. Tanto quanto sei, os outros transportes, funcionam relativamente bem. Ora vejam como será o mês de Outubro em alguma das estações do metro de Lisboa, que sempre foram boas para ver pessoas a tocar. Hoje, que é dia mundial da música, começa-se logo a viajar com bons sons.


domingo, 30 de setembro de 2012

Memória eidética, número cinco

Comboio da Linha do Tua, Sendas, 1975

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fear Fun, de Father John Misty


Arrisco-me já a dizer que este é o disco que mais gosto deste ano. Não é apenas por ser realmente bom, mas trata-se de um Tillman completamente novo. Não que os discos anteriores não fossem também bons de ouvir, aconselho-os vivamente a quem gosta daquele folk mais melancólico, mas este, do seu alter-ego Father John Misty, é acompanhado de uma personagem excêntrica, que se revela na sua musicalidade também renovada. Ora veja-se como ele próprio a descreve:

Misty is a drunk, shamanic drifter character offering you a cup of his home-brewed ayahuasca tea. There is nothing naive or sentimental about him. He’s a loner who doesn’t see the world as being worth saving. ‘Father John Misty’ is not really even meant to be taken as a literal person, more like an avatar of mischief. He likes to needle people a little and freak ‘em out. But I could’ve called him ‘Steve.

Para já, Fear Fun, tem-me acompanhado nas poucas viagens que tenho feito para a faculdade, com o rio Tejo como fundo. Mas vai ficar bem melhor quando as chuvas e o frio de Outono voltarem de vez.


domingo, 23 de setembro de 2012

Moonrise Kingdom, de Wes Anderson



Sou suspeito em falar, porque adoro todo o imaginário dos filmes deste realizador, mas este está especialmente fantástico, em cada pequeno detalhe.

Memória eidética, número quatro

Homem cego a vender canetas em Nova York, 1890, por Jacob Riis

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

tu és o teu poço

Tu és o teu mundo, tu és o teu fundo,
tu és o teu poço, és o teu pior almoço
és a pulga na balança, és a mãe dessa criança,
és o mal, és o bem, és o dia que não vem


Borboleta, Foge Foge Bandido

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A capital!

Nessa tarde, com a serenidade melancólica de quem tomou uma resolução dolorosa, foi passear ao acaso para fora da vila. E ia resumindo a sua existência, procurando explicá-la: donde vinha que que só recebera do mundo desilusões? Da falta de simpatia, pensou. Quem o tinha estimado, amado, desde que o seu pai morrera, e que ele entrara na vida? Ninguém! Em Coimbra, não tinha amigos: para os seus companheiros, com quem comia, a quem admirava, era o Arturzinho, o caloiro. Tinha passado na geração académica desconhecido, ruminando as suas exaltações, encolhido na sua batina, sem ruído. Um dia, o caloiro fora para a terra, acabou-se! Depois, em Oliveira, - quem encontrara? O Teodósio era o bruto, para quem a amizade era acompanhá-lo de madrugada, entre os restolhos de Santo Estêvão, à caça das perdizes! O Rabecaz, que sabia ele de afeições, de ligações de espírito, aquele embrutecido, retirado, pela pobreza, dos bordéis e das batotas, - vivendo entre o copo de aguardente e uma carambola catita? E em Lisboa? O Meirinho, caloteara-o; o Melchior, explorara-lhe jantares e tipóias; o Nazareno, chamava-lhe vilão, o Damião canalha; o Manolo, roubara-lhe a rapariga; e querer ser estimado pelo Videirinha, era como ser perfumado por um esgoto. Nunca recebera o amparo da Amizade, nem sentira o calor fortificante da Simpatia ambiente, sem o qual o homem vai pela vida, com por uma floresta escura, tropeçando contra troncos que o magoam, atirando-se a silvados que o ferem - sem encontrar a estrada real, onde está a luz, a paz. Ninguém! Ninguém!

Não, enganava-se: alguém o amava, uma pobre velha, simples, de coração amante, que ela mesma na vida só tivera lágrimas - e que estava, agora, sob a lousa, naquele cemitério, de que ele via, ao fundo do atalho por onde ia caminhando, os ciprestes agudos. E apressou então o passo, para ir ver a sepultura da tia Sabina.

Eça de Queirós in A Capital!

domingo, 16 de setembro de 2012

Memória eidética, número três


Changing, por Aleksandr Malin

sábado, 15 de setembro de 2012

D'Bandada pelo porto

Tenho sonhado com o Porto, que moro na cidade e que vagueio pelas ruas. Tem acontecido de uma forma estranhamente frequente, como aqueles sonhos que pensamos já ter sonhado mas que ao acordar sabem a novo e a intenso. O resultado é uma vontade crescente de lá ir passar uns dias, o que teria sido perfeito este fim-de-semana, que vão haver concertos gratuitos em locais pouco comuns: coisa que sempre achei  alguma graça.

Que tal o Samuel Úria e o Nuno Prata ao vivo na Barbearia Veneza?



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Arte quis ser vida


Este podia ter sido o título do post anterior, mas só depois de pensar no que tinha escrito é que esta música me veio à cabeça. A maioria das letras dos trabalhos de Manuel Cruz tocam-me sempre de alguma maneira.



É o meu brinquedo, é o meu brinquedo!
Eu estrago, eu arranjo, eu entendo

E sobretudo é nele que eu aprendo
A calar meu medo