quinta-feira, 31 de outubro de 2013

sobre david hakkens, o criador do phoneblocks

No inicio de setembro, quando foi lançando o vídeo e se começou a ser falar do phoneblocks, fui ter à página pessoal do criador, um rapaz holandês chamado Dave Hakkens. O Dave é designer industrial e gosta de fazer vídeos e máquinas, o seu mote é "tentar fazer o mundo melhor criando coisas". Com apenas 25 anos já tem uma data de invenções, desde um moinho de vento que, a partir de grãos, faz óleo, até uma máquina caseira de reciclagem de plástico, passando por um bloco de anotações reutilizável diy, para poupar no papel dos post-its. São todos projectos que tentam simplificar o quotidiano e/ou evitar e aproveitar o desperdício. É exactamente essa a premissa do phoneblocks, evitar todo o lixo gerado pelo aparelhos electrónicos, que são cada vez mais rapidamente substituídos (muitas vezes devido às modas e à fome das empresas, mas isso já é outra conversa). A ideia é genial, isso já todos sabemos, mas, e mais importante, foi a forma como Hakkens se manteve fiel à sua ideia e princípios: das empresas com quem falou escolheu aquela que entendeu ser a melhor parceira, a motorola, mas não tem nenhum vínculo com ela, nem é financiado por ela, tudo será decidido por ele e por uma comunidade feita por qualquer pessoa que queira participar e dar ideias para o projecto. E também será tudo em código aberto (acho que é este o termo correcto), ou seja quem quiser desenvolver e produzir módulos, poderá fazê-lo.

São tipos como este que são capazes de mudar o mundo, por o colocarem em primeiro lugar que o lucro.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

sobre o novo dos arcade fire

Se o objectivo era pôr a malta a dançar, conseguiram. Mas todo aquele sentimento que caracteriza os arcade fire continua, basta fechar os olhos e sentir a coisa, o tronco mexe por predefinição. Depois de uma primeira parte enérgica e mais efusiva, há espaço para uma segunda mais tranquila e introspectiva. Nada há a temer da participação do James Murphy, são os arcade fire de sempre com um modernismo sonoro. Está aqui mais um valente disco.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

after hours

A canção que Lou Reed  achou ser demasiado pura e inocente para ser ele próprio a cantar.

The Velvet Undergroung - After Hours

domingo, 27 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e nove


Girl holding kitten, Londres, 1960, por Bruce Davidson

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

simplificações

«Essas coisas do yin e yang, preto no branco, dualidades, são todas simplificações. Não existem na vida como a conhecemos.» 

A Man Feeding Swans in the Snow, por Marcin Ryczek

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

de volta à melancolia com noiserv

que sabe especialmente bem nestes dias de chuva forte do lado de fora da janela. É quase como se a vida também tivesse sido gravada em stop-motion. Lembro-me bem de ver um vídeo da bullets on parade na fábrica do braço de prata, canção que por si só é bastante forte, era a primeira vez que o estava a ver, e reparar que fazia tudo aquilo sozinho, com todos os instrumentos, o pormenor da máquina fotográfica, dos brinquedos. Passei o dia a ver vídeos dele pelas ruas da internet. Comprei o primeiro disco num concerto no jardim da estrela, vinha todo a preto e branco e com um lápis de várias cores para quem se quisesse aventurar a colorir. Pouco tempo depois saiu o segundo ep, e até hoje seguiram-se mais concertos. Tive pena de não ter conseguido ir ao de estreia do novo disco, almost visible orchestra, mas é óptimo ouvir as canções novas e continuar a seguir este fantástico mundo do noirserv.

O disco está para audição gratuíta no bandcamp e estas fotos foram roubadas do troca de filme, visitem-no!


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

os nossos antepassados foram os que ficaram

- No outro dia - disse Sors -, um homem sentou-se ao meu lado no café. Disse que os portugueses não são descendentes dos que partiram nas caravelas para descobrir novos mundos, mas sim dos que ficaram cá. Muita gente sente-se assim, apesar das comemorações que vemos pelas ruas.


Afonso Cruz, em O Pintor Debaixo do Lava-louças

terça-feira, 22 de outubro de 2013

rigidez

Amanhã serei mais completo, mais rígido comigo. Ou então depois.

foto por Andrew Lyman

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

o que distingue camões do português médio

- Sabe qual é a diferença, a diferença cientificamente exacta, entre Camões e um português médio?
Sors encolheu os ombros, mostrando que não fazia ideia.
- Camões distingue-se do português médio por ter menos uma pala nos olhos - disse o homem.

Afonso Cruz, em O Pintor Debaixo do Lava-louças

domingo, 20 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e oito


O suicídio de Evelyn McHake, conhecido como o mais belo suicídio, Empire State Building, Nova York, 1 de Maio de 1947, por Robert Wiles

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

escrevi torto por linhas rectas

«Existe uma obsessão pela linha recta. O homem não descansou enquanto não transformou a viagem num percurso em linha recta.» Foi esta a epígrafe da minha tese de mestrado. Tentei, quase discretamente, que a frase remetesse ao tema da tese, mas nem era uma prioridade. A epígrafe era sobretudo para mim e acabou por surgir esta, do Gonçalo M. Tavares, que me assentava na perfeição e em meias palavras falava de mobilidade. Por vezes as palavras mais acertadas são aquelas que não estão escritas, como um silêncio dos escritores.

O homem tem, de facto, uma obsessão pela linha recta e no mundo estas não existem por natureza. Moralmente o recto simboliza o bom e o torto aquele que se afasta. Senta-te direito, dizia subliminalmente o meu professor de filosofia. E o curioso desta história é que, na discussão da tese, comentaram a epígrafe sem qualquer suspeita de que era uma provocação (tamanha é a obsessão). Uma provocação à rapidez de hoje em dia, à forma recta que desejam em tudo. Nunca pretendi que o meu caminho universitário fosse assim, uma entrada para uma saída, e é tudo o que vejo à volta.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

miniatura normativa, parte seis

Não há mal em ser foleiro, se já o foi o mundo inteiro.

Éme, em fetra

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

sobre as histórias

Enquanto a água se pode guardar em garrafas, as histórias não podem ser engarrafadas sem que se estraguem rapidamente. Têm de andar ao ar livre como os animais selvagens. Temos de as soltar para que possam correr todas nuas.

Afonso Cruz, em O Pintor Debaixo do Lava-loiças

terça-feira, 15 de outubro de 2013

do álbum fotográfico do devendra


tirado do chumblr do devendra banhart.

domingo, 13 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e sete


Ezra Pound, Veneza, 1971, por Henri Cartier-Bresson

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

como as armas, as mulheres

O Nandos diz que é uma fusca sacana, adora surpresas. Cabe em qualquer gabardine e quando encurralada não se cala até deixarem passar. Esta cabra só pode ter sido criada à nossa imagem e semelhança. Está sempre a criar danos colaterais e não se importa se não acertarmos em cheio, desde que leve muitos consigo. Mais uma fã dos múltiplos.

Ricardo Adolfo, em Maria dos Canos Serrados

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

updike, quase sobre o que escrevi ontem


tirado deste maravilhoso blogue.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

aquela ideia romântica de falhar para depois renascer

Já disse que não sou do tipo religioso. A morte assusta-me. O óbvio seria acreditar numa certa transcendência que, religiões à parte, é capaz de devolver uma certa tranquilidade, como um seguro. Mas o que me assusta é sermos desligados num clique e ser como se nunca tivéssemos existido. Como se nada tivesse importado, reduzirmo-nos a simples matéria. Parece-me demasiado injusto. Ainda nem descortinei nada. Acabei de sair da faculdade, mal tive a oportunidade de falhar. Sempre tive aquela ideia romântica de falhar para depois renascer.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

a islândia, a crença e portugal

Ontem ouvi Valter Hugo Mãe falar sobre islândia, de como grande parte dos islandeses acreditam na existência de pequenos homens que habitam as rochas, a quem fazem oferendas, de como aqueles que não acreditam não fazem juízos e de como existem estradas que se desviam propositadamente dessas rochas, que fazem parte da numeração das casas. Se depois da casa um estiver uma rocha, a próxima casa será a casa três. A rocha é a casa dois. Acho isto de uma beleza extrema, faz-me acreditar. Cá é exactamente o contrário. Nem nas pessoas há crença, nem na natureza há crença e nem património há crença. Não há qualquer problema em passar-lhes por cima. Que tristeza extrema.

domingo, 6 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e seis


O primeiro Ronald McDonald protagonizado pelo actor Willard Scott, 1963, Washington D.C.

sábado, 5 de outubro de 2013

no lugar de ti colocar um poema

Se ele te falar dos poemas, ouve tudo. É a única coisa que conta, a poesia. No lugar da Islândia colocar um poema. No lugar do coração colocar um poema. Depois, dizê-lo uma e outra vez, até ser tudo.

Valter Hugo Mãe, em A Desumanização

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

a chuva em mim

Até ontem, ainda não tinha chovido forte em mim. A chuva forte do novo outono ainda não me tinha encontrado na rua. Mal me tinha abrigado no chapéu de chuva que abre e fecha por si. Ontem à noite a chuva forte encontrou-me desprotegido. Em meros segundos o cabelo ensopado escorria pela barba. Corri, abrigando-me pelas pequenas ombreiras inúteis, faziam formar pingos ainda mais molhantes. A cerveja no estômago dançava. A madrugada, os prédios baixos de lisboa, a chuva forte de outono a cair, a sua melodia, a cerveja no estômago, todos os barulhos da cidade melodia com a chuva forte. Entendi. Apenas caminhei, senti a chuva em mim.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

o maior evento de arte de rua alguma vez feito


É em paris, e pode ser visto online. Se por fora tem este aspecto, imaginem por dentro! Era fazer isto cá num prédio devoluto, ganhava alma, ficava uma bonita casa para a arte contemporânea!