sexta-feira, 11 de abril de 2014

Eça, sobre o orgulho português

(...) Mas meu caro André, com que autoridade me faz El-Rei marquês de Treixedo?
O Cavaleiro levantou vivamente a cabeça numa ofendida surpresa.
- Com que autoridade? Simplesmente com a autoridade que tem sobre nós todos, como Rei de Portugal que ainda é, Deus louvado!
E Gonçalo, muito simplesmente, sem fumaça nem pompa, com o mesmo sorriso de suave gracejo:
- Perdão, Andrezinho. Ainda não havia reis de Portugal, nem sequer Portugal, e já meus avós Ramires tinham solar em Treixedo! Eu aprovo os grandes dons entre os grandes Fidalgos; mas cumpre aos mais antigos começarem. El-Rei tem uma quinta ao pé de Beja; creio eu, o Roncão. Pois, dize tu a El-Rei, que eu tenho imenso gosto em o fazer, a ele, marquês do Roncão.
O Barrolo embasbacado, sem compreender, com as bochechas descaídas e murchas. Da beira do canapé, Gracinha, toda corada, faiscava de gosto, por aquele lindo orgulho que tão bem condizia com o seu, mais lhe fundia a alma com a alma do irmão amado.

Eça de Queirós, em A Ilustre Casa de Ramires

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