segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

a história invisível

Os factos históricos, acreditava, Lenz, a história no seu sentido mais amplo, para além do que mostrava, tinha ainda uma série de movimentos que se faziam atrás das costas. No entanto, como estávamos (hipnotizados) de frente para os acontecimentos históricos visíveis, não víamos os outros.

Gonçalo M. Tavares, em Aprender a rezar na Era da Técnica

o gesto invisível

«Lenz considerava, aliás, estes movimentos não visíveis semelhantes aos gestos que uma pessoa pode fazer, estando em frente de outra, com a mão atrás das costas. Mão que é espantosamente visível para ele próprio, embora não com os olhos e, ao mesmo tempo, invisível para o homem que está mesmo à frente.» E quando a mão está visível, gesticula-se com a cabeça. A mente pode ser uma ferramenta tão violenta quanto a mão.

(Gonçalo M. Tavares, Aprender a rezar na Era da Técnica)

domingo, 29 de dezembro de 2013

Memória eidética, número setenta e oito


Salvador Dali vestido de Pai Natal, Dezembro de 1961

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

o que se aprende ao ler uma entrevista do Lobo Antunes

Aprende-se que, antigamente, nos museus, haviam escarradores a cada dez telas. E, provavelmente, não só nos museus. Pensem nisso, para mim, pensar apenas no som de outra pessoa a fazê-lo é suficiente. Enfim, lêem-se também coisas destas:
Aliás, o que é um prémio literário? Um prémio não honra um escritor, os escritores é que honram os prémios. Devíamos dar os parabéns ao Nobel por alguns grandes escritores o terem ganho...

Leiam o resto aqui.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

sonho de um homem ridículo

Para mim, um progressista russo, moderno, ignóbil, parecia inconcebível, por exemplo, o facto de que elas, sabendo tanta coisa, não tivessem a nossa ciência. Porém, não tardei a compreender que a sua sabedoria se completava e se alimentava por outro discernimento que não o da Terra, e que as suas aspirações também eram muito diferentes. Não desejavam nada e eram tranquilas, não ansiavam pelo conhecimento da vida da mesma forma que nós, quando tentamos tomar consciência dela, porque a sua vida era uma vida plena. Mas a sua sabedoria era mais profunda e superior do que a nossa ciência, porque a nossa ciência procura explicar o que é a vida, tenta consciencializá-la para ensinar a viver os outros; ora, aquela gente sabia, sem a ciência, como tinha de viver.

Dostoiévski, em Sonho de um homem ridículo

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

domingo, 22 de dezembro de 2013

Memória eidética, número setenta e sete


Vendedeiras ao sol, Lisboa, 1955, por Henri Cartier-Bresson

sábado, 21 de dezembro de 2013

espero que 2014 traga o b fachada de volta

Há um ano atrás, na mudança para o dia do suposto fim do mundo, estava no último concerto do B Fachada. Não estava muito medroso com o apocalipse, mas também não havia melhor forma de ir desta para melhor, se é que esta expressão faz algum sentido neste contexto. Foi uma b.leza.



sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Cadernos da Bina: pedal em espera

Finalmente encontrar uma bicicleta que me agrade no mini-mercado da bina, grupo do facebook, negociar o preço, fechar o negócio.(Des)Esperar uma semana por ela ainda não ter chegado. Ligar à porcaria da transportadora vezes sem conta sem que alguém atenda, olhar desconfiado para as mensagens do facebook da pessoa que ma vendeu. Lá conseguir que alguém me atenda os telefonemas, talvez chegue amanhã. 

Pensava que neste altura já me tinha fartado de pedalar. Dia 27 há massa crítica, não quero fazer má figura.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes


Adiado por demasiado tempo. Documentáriozaço.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

dostoiévski, sobre o discurso dos políticos

Deixam-nos, porém, tagarelar. Todos os problemas estatais, e o parisiense emociona-se com delícia. Sabe que haverá eloquência, está feliz. É claro que sabe muito bem que não haverá mais do que eloquência, que haverá tão-só palavras, palavras e mais palavras, e que de palavras não resultará absolutamente nada. Mas isso também o faz muito feliz. (...) E o representante está sempre disposto a fazer discursos para divertir o público. Coisa estranha: ele próprio tem a certeza absoluta de que dos seus discursos nada resultará, que tudo é uma brincadeira, jogo e mais nada, um jogo inocente, um carnaval;

Dostoiévski, apontamentos de inverno sobre impressões de verão

Cá a eloquência veio com a troika.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

um disco intimista para meio de dezembro


Ainda vasculho os discos de 2013 por ouvir. Este foi um deles.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Memória eidética, número setenta e seis


Mulher envergonhada depois de pôr filhos à venda, 1948, Chicago

sábado, 14 de dezembro de 2013

a palavra do ano

Nem sei o que pense sobre a escolha da palavra do ano. Li algures na internet que a internacional foi selfie. Com tantas coisas relevantes e históricas que aconteceram no mundo em 2013, a palavra escolhida é uma que designa algo que se faz há imensos séculos, um auto-retrato. Quanto à portuguesa, só espero que mostre algum activismo politico, embora nos dias que correm seja pouco o que não mostre.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

mais uma vez jorge pelicano para salvar o tua

Um pequeno vídeo do Jorge Pelicano para a Plataforma Salvar o Tua. Visitem e partilhem, a causa é nobre e urgente!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Dostoiévski, sobre a liberdade

De facto, proclamaram: liberté, égalité, fraternité. Muito bem. O que é liberté? Liberdade. Que liberdade? Liberdade, igual para todos, de cada qual fazer o que quiser dentro dos limites da lei. E quando se pode fazer o que se quiser? Quando se tem um milhão. E a liberdade dá um milhão a cada um? Não. O que é um homem sem um milhão? O homem sem um milhão não é aquele faz o que quer, mas aquele de quem se faz o que se quer.


Dostoiévski, em Apontamentos de inverno sobre impressões de verão

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

das manifestação bonitas, desta vez em kiev


Depois da revolução dos cravos, a manifestação da leitura na turquia, que já aqui tinha mostrado, e agora a manifestação ao piano em kiev. Parece que o mundo anda a aprender coisas bonitas connosco, e nós a esquecer aquilo que já fomos.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Memória eidética, número setenta e cinco


Edith Piaf e Théo Sarapo, por Hugues Vassal, 1957

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

a canção da sexta-feira

Somos
A vez dos zonzos
Talvez enquanto
Quisermos ser
Daqui pra já
Eu e você
Daqui pra lá
Não vai sobrar
Nada pra ser
Mas quem se importa? É sexta-feira, amor! Sexta-feira!
Cícero - Ponto Cego

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

dos dias singulares

Existem dias bons e existem dias maus, dias da inutilidade, outros em que nem se tira o pijama. Existem dias iguais, dias que fogem à rotina, outros a roçar aborrecimento e existem dias em que um completo desconhecido te aborda na rua, pergunta-te se és o Francisco e te diz que é teu primo. Truestory bro.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

é isto

O bernardo cantava ao tempo para cantar, eu escrevo ao tempo para ler: sobra-me tempo para ler. Mas também não poupo a voz.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

silêncio

«Fica o silêncio depois da música e depois do sermão, que importa que se louve o sermão e aplauda a música, talvez só o silêncio exista verdadeiramente.» Ainda que sejam silêncios completamente diferentes, mas, até vou mais longe, talvez seja o silêncio o que de mais próximo existe de uma verdade absoluta.

(Saramago, em Memorial do Convento)

domingo, 1 de dezembro de 2013

Memória eidética, número setenta e quatro


Fernando Pessoa com António Botto, Raul Leal e Augusto Ferreira Gomes no Martinho da Arcada, Lisboa, 1928

sábado, 30 de novembro de 2013

um poema para celebrar pessoa

Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço –

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.

Fernando Pessoa, em Tudo o que faço ou medito

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

a verdade é uma coisa qualquer

(...) mas acredito na necessidade do erro. (...) Tendes razão, disse o padre, mas desse modo, não está homem livre de julgar abraçar a verdade e achar-se cingido com o erro, Como livre também não está de supor abraçar o erro e encontrar-se cingido com a verdade, respondeu o músico, e logo disse o padre, Lembrai-vos de que quando Pilatos perguntou a Jesus o que era a verdade, nem ele esperou pela resposta, nem o Salvador lha deu. Talvez soubessem ambos que que não existe resposta para tal pergunta,

Saramago, em Memorial do Convento

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

a ilha fantasma

«Existem sítios abandonados de gente e existem sitios abandonadas de alma.»

Ilha Hashima, Japão

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

cantar o que me impede de dormir

Bom, não sou o gajo mais feliz do mundo mas estou dentro da média. A nossa música tem tanto de humor, de luz e de boa disposição como de escuridão. Mas gosto de aprofundar o lado mais doloroso, é verdade. Porque canto o que não me deixa dormir, mesmo que seja apenas porque quero descobrir de que se trata.

Matt Berninger, em entrevista ao i. 
Nem sou muito dos national, mas gostei de ler isto. Talvez seja uma boa terapia. Tudo o que me distraia é.

domingo, 24 de novembro de 2013

Memória eidética, número setenta e três


Almada Negreiros numa palestra para a BBC, Londres, 1950

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

impotência cultural

A cinemateca lá se salvou, depois veio a barraca fazer jus ao nome, domingo caí o trono dos cinemas king e entretanto ainda se assinam petições para tentar evitar que antigos cinemas Odéon, há muito abandonados, se tornem mais um centro comercial. Já pareço o meu avô a dizer que cá é tudo ao contrário.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

receber a carta de um escravo chinês

Acho que todos já olhamos para o mar à espera de encontrar uma garrafa com uma mensagem, uma carta de alguém de lá de longe, ou até enviar. Sempre pensei nisto como uma acção alegre, uma forma de comunicar com alguém totalmente desconhecido e na esperança que a garrafa percorra um mundo de viagem. Neste caso a esperança é diferente. Imaginem-se a abrir um brinquedo, ou outra qualquer coisas que seja feita pelos orientes, e encontrarem uma carta de um escravo a denunciar um campo de trabalhos esforçados.

A verdade é que podemos olhar neste momento para portugal e falar de muita coisa má, lobbys, cada vez mais empobrecimento, maior diferença entre classes, por aí, é verdade, devemos lutar contra tudo isso, mas existem vários e grandes problemas a nível mundial e já somos, ou devíamos, ser pessoas civilizadas há uns quantos anos. Podemos até culpar o capitalismo, mas somos nós que estamos no fim da cadeia.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

para bom entendedor


Escrita e música, são esses dois dos meus grandes vinicius. 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

o velho

domingo, 17 de novembro de 2013

Memória eidética, número setenta e dois


Jean Cocteau, Nova York, 1948, por Philipppe Halsman

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

muros brancos, povo mudo

Se muros brancos significam um povo mudo, qual o significado de ser necessária uma autorização para fazer um graffiti? Povo oprimido? Quem autorizaria frases revolucionárias hoje? Ou algo do género do dos gémeos na fontes pereira de melo focado em nós. Por outro lado, quem não autorizaria?



quarta-feira, 13 de novembro de 2013

sobre conseguir

Se não consegues pensar antes de falar, escreve. Se não consegues pensar antes de escrever, lê. Se não consegues vai ao médico.

Aldina Duarte


terça-feira, 12 de novembro de 2013

andrew bird: fever year


Só por esta imagem dá para ver que este documentário vale a pena, como se saber que é sobre uma tour do Andrew Bird não bastasse. Vou colocá-lo na lista de filmes para ver num futuro próximo.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

a roda viva do dia de são martinho

As castanhas e a jeropiga sabem bem é em dias frios e, no chamado verão de são martinho, foi o frio a chegar atrasado. Parece que neste país anda tudo em modo austeridade. Hoje de manhã andava a ouvir o nosso caro amigo Chico Buarque, até que chegou a roda-viva e há bastante tempo que esta é uma canção sobre o portugal actual escrita por um brasileiro nos anos 60. E, infelizmente, vai continuar a ser.


domingo, 10 de novembro de 2013

Memória eidética, número setenta e um


Albert Camus, Paris, 1956, por Henri Cartier-Bresson

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

miniatura normativa, parte sete

(...) porque este é o dia de ver, não o de olhar, que esse pouco é o que fazem os que, olhos tendo, são outra qualidade de cegos.

Saramago, em Memorial do Convento

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

reinterpretar, reinventar

Quer seja o B Fachada a tocar a canção que aprendeu sobre a Dona Filomena, quer a tradição seja aprendida de geração em geração, à frente de um computador, ou seja cantada por alguém no banho. O importante é que a tradição não se apague da memória, seja reinterpretada e reinventada. E ainda bem que temos a música portuguesa a gostar dela própria.




terça-feira, 5 de novembro de 2013

typical efemota


i started something and now i'm not too sure


The Smiths  - I started something i couldn't finish

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

um pensamento que me assombrou há umas semanas

Know what's weird? Day by day nothing seems to change. But pretty soon everything's different.

Bill Watterson

E depois também há a outra, que já nem sei onde ouvi, que é num espaço de cinco anos sermos diferentes ao ponto de olharmos para trás e nos acharmos completamente parvos. Ao ponto do embaraço.
Daqui a cinco anos vou ler o quão parvo era. Já me aconteceu. E vou envergonhar-me deste post.

domingo, 3 de novembro de 2013

Memória eidética, número sessenta


Dois irmãos rabinos, Nova York, 1990, por Bruce Davidson

sábado, 2 de novembro de 2013

a história da freira que fugiu da congregação para ser video jockey



I think five percent of all songs can be love songs, and another five percent can be miscellaneous or political, but the rest should just be about medieval feminists.

Devendra Banhart

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

a ira dos pássaros

«vigiam-nos lá de cima, esperam pela oportunidade, nós desprevenidos», talvez se fale de caca, ou de guerra.


foto por Sergio Larrain, Londres, 1959

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

sobre david hakkens, o criador do phoneblocks

No inicio de setembro, quando foi lançando o vídeo e se começou a ser falar do phoneblocks, fui ter à página pessoal do criador, um rapaz holandês chamado Dave Hakkens. O Dave é designer industrial e gosta de fazer vídeos e máquinas, o seu mote é "tentar fazer o mundo melhor criando coisas". Com apenas 25 anos já tem uma data de invenções, desde um moinho de vento que, a partir de grãos, faz óleo, até uma máquina caseira de reciclagem de plástico, passando por um bloco de anotações reutilizável diy, para poupar no papel dos post-its. São todos projectos que tentam simplificar o quotidiano e/ou evitar e aproveitar o desperdício. É exactamente essa a premissa do phoneblocks, evitar todo o lixo gerado pelo aparelhos electrónicos, que são cada vez mais rapidamente substituídos (muitas vezes devido às modas e à fome das empresas, mas isso já é outra conversa). A ideia é genial, isso já todos sabemos, mas, e mais importante, foi a forma como Hakkens se manteve fiel à sua ideia e princípios: das empresas com quem falou escolheu aquela que entendeu ser a melhor parceira, a motorola, mas não tem nenhum vínculo com ela, nem é financiado por ela, tudo será decidido por ele e por uma comunidade feita por qualquer pessoa que queira participar e dar ideias para o projecto. E também será tudo em código aberto (acho que é este o termo correcto), ou seja quem quiser desenvolver e produzir módulos, poderá fazê-lo.

São tipos como este que são capazes de mudar o mundo, por o colocarem em primeiro lugar que o lucro.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

sobre o novo dos arcade fire

Se o objectivo era pôr a malta a dançar, conseguiram. Mas todo aquele sentimento que caracteriza os arcade fire continua, basta fechar os olhos e sentir a coisa, o tronco mexe por predefinição. Depois de uma primeira parte enérgica e mais efusiva, há espaço para uma segunda mais tranquila e introspectiva. Nada há a temer da participação do James Murphy, são os arcade fire de sempre com um modernismo sonoro. Está aqui mais um valente disco.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

after hours

A canção que Lou Reed  achou ser demasiado pura e inocente para ser ele próprio a cantar.

The Velvet Undergroung - After Hours

domingo, 27 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e nove


Girl holding kitten, Londres, 1960, por Bruce Davidson

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

simplificações

«Essas coisas do yin e yang, preto no branco, dualidades, são todas simplificações. Não existem na vida como a conhecemos.» 

A Man Feeding Swans in the Snow, por Marcin Ryczek

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

de volta à melancolia com noiserv

que sabe especialmente bem nestes dias de chuva forte do lado de fora da janela. É quase como se a vida também tivesse sido gravada em stop-motion. Lembro-me bem de ver um vídeo da bullets on parade na fábrica do braço de prata, canção que por si só é bastante forte, era a primeira vez que o estava a ver, e reparar que fazia tudo aquilo sozinho, com todos os instrumentos, o pormenor da máquina fotográfica, dos brinquedos. Passei o dia a ver vídeos dele pelas ruas da internet. Comprei o primeiro disco num concerto no jardim da estrela, vinha todo a preto e branco e com um lápis de várias cores para quem se quisesse aventurar a colorir. Pouco tempo depois saiu o segundo ep, e até hoje seguiram-se mais concertos. Tive pena de não ter conseguido ir ao de estreia do novo disco, almost visible orchestra, mas é óptimo ouvir as canções novas e continuar a seguir este fantástico mundo do noirserv.

O disco está para audição gratuíta no bandcamp e estas fotos foram roubadas do troca de filme, visitem-no!


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

os nossos antepassados foram os que ficaram

- No outro dia - disse Sors -, um homem sentou-se ao meu lado no café. Disse que os portugueses não são descendentes dos que partiram nas caravelas para descobrir novos mundos, mas sim dos que ficaram cá. Muita gente sente-se assim, apesar das comemorações que vemos pelas ruas.


Afonso Cruz, em O Pintor Debaixo do Lava-louças

terça-feira, 22 de outubro de 2013

rigidez

Amanhã serei mais completo, mais rígido comigo. Ou então depois.

foto por Andrew Lyman

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

o que distingue camões do português médio

- Sabe qual é a diferença, a diferença cientificamente exacta, entre Camões e um português médio?
Sors encolheu os ombros, mostrando que não fazia ideia.
- Camões distingue-se do português médio por ter menos uma pala nos olhos - disse o homem.

Afonso Cruz, em O Pintor Debaixo do Lava-louças

domingo, 20 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e oito


O suicídio de Evelyn McHake, conhecido como o mais belo suicídio, Empire State Building, Nova York, 1 de Maio de 1947, por Robert Wiles

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

escrevi torto por linhas rectas

«Existe uma obsessão pela linha recta. O homem não descansou enquanto não transformou a viagem num percurso em linha recta.» Foi esta a epígrafe da minha tese de mestrado. Tentei, quase discretamente, que a frase remetesse ao tema da tese, mas nem era uma prioridade. A epígrafe era sobretudo para mim e acabou por surgir esta, do Gonçalo M. Tavares, que me assentava na perfeição e em meias palavras falava de mobilidade. Por vezes as palavras mais acertadas são aquelas que não estão escritas, como um silêncio dos escritores.

O homem tem, de facto, uma obsessão pela linha recta e no mundo estas não existem por natureza. Moralmente o recto simboliza o bom e o torto aquele que se afasta. Senta-te direito, dizia subliminalmente o meu professor de filosofia. E o curioso desta história é que, na discussão da tese, comentaram a epígrafe sem qualquer suspeita de que era uma provocação (tamanha é a obsessão). Uma provocação à rapidez de hoje em dia, à forma recta que desejam em tudo. Nunca pretendi que o meu caminho universitário fosse assim, uma entrada para uma saída, e é tudo o que vejo à volta.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

miniatura normativa, parte seis

Não há mal em ser foleiro, se já o foi o mundo inteiro.

Éme, em fetra

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

sobre as histórias

Enquanto a água se pode guardar em garrafas, as histórias não podem ser engarrafadas sem que se estraguem rapidamente. Têm de andar ao ar livre como os animais selvagens. Temos de as soltar para que possam correr todas nuas.

Afonso Cruz, em O Pintor Debaixo do Lava-loiças

terça-feira, 15 de outubro de 2013

do álbum fotográfico do devendra


tirado do chumblr do devendra banhart.

domingo, 13 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e sete


Ezra Pound, Veneza, 1971, por Henri Cartier-Bresson

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

como as armas, as mulheres

O Nandos diz que é uma fusca sacana, adora surpresas. Cabe em qualquer gabardine e quando encurralada não se cala até deixarem passar. Esta cabra só pode ter sido criada à nossa imagem e semelhança. Está sempre a criar danos colaterais e não se importa se não acertarmos em cheio, desde que leve muitos consigo. Mais uma fã dos múltiplos.

Ricardo Adolfo, em Maria dos Canos Serrados

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

updike, quase sobre o que escrevi ontem


tirado deste maravilhoso blogue.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

aquela ideia romântica de falhar para depois renascer

Já disse que não sou do tipo religioso. A morte assusta-me. O óbvio seria acreditar numa certa transcendência que, religiões à parte, é capaz de devolver uma certa tranquilidade, como um seguro. Mas o que me assusta é sermos desligados num clique e ser como se nunca tivéssemos existido. Como se nada tivesse importado, reduzirmo-nos a simples matéria. Parece-me demasiado injusto. Ainda nem descortinei nada. Acabei de sair da faculdade, mal tive a oportunidade de falhar. Sempre tive aquela ideia romântica de falhar para depois renascer.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

a islândia, a crença e portugal

Ontem ouvi Valter Hugo Mãe falar sobre islândia, de como grande parte dos islandeses acreditam na existência de pequenos homens que habitam as rochas, a quem fazem oferendas, de como aqueles que não acreditam não fazem juízos e de como existem estradas que se desviam propositadamente dessas rochas, que fazem parte da numeração das casas. Se depois da casa um estiver uma rocha, a próxima casa será a casa três. A rocha é a casa dois. Acho isto de uma beleza extrema, faz-me acreditar. Cá é exactamente o contrário. Nem nas pessoas há crença, nem na natureza há crença e nem património há crença. Não há qualquer problema em passar-lhes por cima. Que tristeza extrema.

domingo, 6 de outubro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e seis


O primeiro Ronald McDonald protagonizado pelo actor Willard Scott, 1963, Washington D.C.

sábado, 5 de outubro de 2013

no lugar de ti colocar um poema

Se ele te falar dos poemas, ouve tudo. É a única coisa que conta, a poesia. No lugar da Islândia colocar um poema. No lugar do coração colocar um poema. Depois, dizê-lo uma e outra vez, até ser tudo.

Valter Hugo Mãe, em A Desumanização

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

a chuva em mim

Até ontem, ainda não tinha chovido forte em mim. A chuva forte do novo outono ainda não me tinha encontrado na rua. Mal me tinha abrigado no chapéu de chuva que abre e fecha por si. Ontem à noite a chuva forte encontrou-me desprotegido. Em meros segundos o cabelo ensopado escorria pela barba. Corri, abrigando-me pelas pequenas ombreiras inúteis, faziam formar pingos ainda mais molhantes. A cerveja no estômago dançava. A madrugada, os prédios baixos de lisboa, a chuva forte de outono a cair, a sua melodia, a cerveja no estômago, todos os barulhos da cidade melodia com a chuva forte. Entendi. Apenas caminhei, senti a chuva em mim.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

o maior evento de arte de rua alguma vez feito


É em paris, e pode ser visto online. Se por fora tem este aspecto, imaginem por dentro! Era fazer isto cá num prédio devoluto, ganhava alma, ficava uma bonita casa para a arte contemporânea! 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

um turbo lento


Acabar o mês e começar a semana com um novo disco dos linda martini. Que bom que é. Que continuem a ser aquela banda.

domingo, 29 de setembro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e cinco

Manoel Bandeira, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, anos 60, por Pedro de Moraes

sábado, 28 de setembro de 2013

rezar é como encomendar

Tenho muitos medos e eles ficam a cobrir o céu e a fazer inverno e tempestades. Odeio o inverno, confessava ele. Fico fechado a rezar. Rezar é como dar corda à morte. Quanto mais rezamos, mais encomendados a deus estamos. E ele vai sempre lembrando mais e mais, até poder decidir que lhe fazemos jeito e nos mata. Quando deus me matar, vou revoltado, porque sentirei a falta de aqui estar eternamente.

Valter Hugo Mãe, em A Desumanização

as tempestades são tramadas

Curiosamente, hoje estava a ver o lost e o Mr. Eko, com o seu ar erudito de espiritualidades, diz ao Locke não confundas coincidência com destino.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

o cavalo, de rodrigo amarante

Ouvi pela primeira vez o Rodrigo Amarante quando abriu o concerto do Devendra. Já conhecia Little Joy, mas não é a mesma coisa. Faz canções muito boas. E ali só, por vezes com alguns músicos a acompanhar, viu-se bem o seu calibre. Confiram aqui o disco, está para audição gratuita.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

uma pequena e ingénua convicção

Todas as lagoas do mundo dependem de sermos ao menos dois. Para que um veja e o outro ouça. Sem um diálogo não há beleza e não há lagoa. A esperança na humanidade, talvez por ingénua convicção, está na crença de que o individuo a quem se pede que ouça o faça por confiança. É o que todos almejamos. Que acreditem em nós. Dizermos algo que se toma como verdadeiro porque o dizemos simplesmente.

Valter Hugo Mãe, em A Desumanização

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

sobre a história de encomendar filmes a woody allen

Gosto bastante do Woddy Allen e da maioria dos seus filmes que vi, mas acho que é um grande erro uma cidade financiar um filme dele para se promover. Fala-se de lisboa e do rio de janeiro. Em primeiro lugar, existem realizadores de ambos as nacionalidades que já mostraram obras de qualidade. Seria também investir e divulgar o cinema nacional. Em segundo lugar, quem melhor para filmar determinada cidade que alguém que a conheça bem e/ou que seja residente? Por último, acho que impor uma cenário para um filme, especialmente para um Allen, não é criativamente natural. Vejam-se os seus dois últimos, ambos fora de nova york, um deles criado de raiz com paris como fundo, outro, encomendado para ser feito em roma. Fui apenas eu a achar o to rome with love oco?

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

sobre a privacidade na nova era

Tendo nascido na transição da mentalidade "analógica" para a digital, estou habituado a este choque de mundividências. Em especial quanto à "privacidade", conceito que muita gente considera antiquado, fora de moda, tenebroso até. Estamos no século da transparência, e o senhor Zuckerberg, guru com mais de mil milhões de devotos, defende que a sociedade ideal é aquela em que todos sabemos tudo sobre todos. Eu sou daqueles que acham isso uma boa definição de totalitarismo.
(...)
A ideologia transparente suspeita de qualquer ocultação, e a privacidade depende de uma ocultação. Por isso o "segredo", gravissimo ou banal, deve ser desvendado e divulgado. Estamos em territótio orwelliano: tudo é público, tudo tem interesse público, e a vergonha, o embaraço, o pudor ou a reserva são hábitos obsoletos, dos quais todos devem abdicar. Neste novíssimo Big Brother, ser constantemente observado é aceitável e benéfico, enquanto ser ignorado é uma tragédia.

Pedro Mexia, na sua crónica na Atual, do espresso

É isso, ainda que ache que o melhor termo não seja transparência, mas sim, esta acaba no que é privado. 


domingo, 22 de setembro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e cinco


Beatriz Costa, Lisboa, nos anos 30, por Mário Novais

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

a sexta da bina

Sempre que me disserem que a bicicleta não é um modo de transporte eficaz eu mostro esta foto. Copenhaga, pleno inverno.

Snow Chatting - Cycling in Winter in Copenhagen

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

sobre a descrença

Pertenço a uma geração que herdou uma descrença na igreja. Se não foi isso, então é porque nunca me identifiquei, saliente-se, com a igreja católica. Por isso ouvir um papa dizer que a igreja é antiquada é uma muito boa nova. Como se diz nos casos das dependências, o primeiro passo é admitir. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

em resposta aos dizeres


Eu cá acho mais difícil encontrar um sítio onde cair vivo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

os vampire weekend com uma canção dos radiohead

Talvez nunca tenha dado a devida atenção aos vampire weekend. Conheço algumas canções que ficam logo a tocar na cabeça, mas mesmo assim essas canções nunca me levaram a querer ouvir mais. Até nos blogues que sigo e que costumam falar de música que também ouço já os vi, e mesmo assim nunca lhes peguei, até que, ontem, ouvi esta cover da exit music (for a film). Talvez seja desta.


domingo, 15 de setembro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e quatro


Cabeça do Cristo Redentor quando estava a ser construído, 1930, Rio de Janeiro 

sábado, 14 de setembro de 2013

coisas que fazem de um homem um homem

Um filósofo qualquer, já não me lembro qual, disse que um homem só é verdadeiramente um homem depois de escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho, não necessariamente por esta ordem. Já o Camus dizia que, até aos 30, um homem tem de se conhecer como a palma da mão, saber o número exacto dos seus defeitos e qualidades, até onde é capaz de ir e até, vejam bem, saber onde vai falhar.

Tenho de plantar uma árvore.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

sobre a evolução das armas

E ao ouvir os sonhos de Tuahir, com os ruídos da guerra por trás, ele vai pensando: «não inventaram ainda uma pólvora suave, maneirosa, capaz de explodir os homens sem lhes matar. Uma pólvora que, em avessos serviços, gerasse mais vida. E do homem explodido nascessem os infinitos homens que lhes estão por dentro».

Mia Couto, em Terra Sonâmbula 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

perspectivas

Vemos um homem a discursar, entusiasta, esbraceja, tem um blazer tweed e uma gravata de cor morta. Parece-nos alguém que sabe do que fala, que gosta do que fala, talvez um professor, não o conseguimos ouvir. Se conseguíssemos ver mais da plateia e não houvesse ninguém, se o homem entusiasta a discursar estivesse só, a discursar para ninguém, que pensaríamos agora dele? Talvez praticasse. E se estivesse a discursar, entusiasta, ainda com o blazer tweed e gravata de cor morta, para uma jaula de macacos, daqueles macacos pequenos que fazem disparates? Mesmo se estivesse a discursar, entusiasta, bracejando, para macacos, sobre as mais complicadas teorias da física quântica? A maioria das pessoas é ignorante no que toca a física quântica, como os macacos daqueles pequenos que fazem disparates.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

das simples palavras

A mulher está a ler o jornal, as mãos tremem. Há uma qualquer notícia que a perturba. Não vemos o que é, só vemos a força com que ele amarrota o jornal, e depois o modo como o endireita outra vez e se dirige ao quarto. Pega na almofada, abre a fronha e põe lá dentro o jornal.
Alisa a almofada e coloca-a no sítio em que estava antes, como se nada fosse. Sai do quarto.
Fez aquilo como alguém que quer provocar pesadelos noutra pessoa. Quem dorme naquela cama, e que notícia assustou tanto aquela mulher?

Gonçalo M. Tavares, em Short Movies

domingo, 8 de setembro de 2013

Memória eidética, número cinquenta e três


Salazar numa fotografia que servia de modelo para busto, 1941, por Mário Novais