quinta-feira, 25 de julho de 2013

sobre sonhar, morrer, ser e existir

digamos que estou como o insone que achou o lugar certo da almofada e vai poder, enfim, adormecer, Se veio para dormir, a terra é boa para isso, Entenda a comparação ao contrário, ou então, que se aceito sono é para poder sonhar, Sonhar é ausência, é estar do lado de lá, Mas a vida tem dois lados, Pessoa, pelo menos dois, ao outro só pelo sonho conseguimos chegar, Dizer isso a um morto, que lhe pode responder com o saber feito da experiência, que o outro lado da vida é só a morte, Não sei o que é a morte, mas não creio que seja esse o outro lado da vida de que se fala, a morte, penso eu, limita-se a ser, a morte é, não existe, é, Ser e existir então, não são idênticos, Não, Meu caro Reis, ser e existir só não são idênticos porque temos duas palavras ao nosso dispor, Pelo contrário, é porque não são idênticos que temos as dias palavras e as usamos.


José Saramago, em O Ano da Morte de Ricardo Reis

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